A recém anunciada aquisição de 50% das operações da chinesa Chery pelo grupo CAOA faz pensar se a iniciativa representa uma alavancagem, um fortalecimento, nas operações da Chery no Brasil ou se, ao contrário, sinaliza um recolhimento, uma retração, do investimento e do interesse do grupo chinês no mercado brasileiro. Os volumes de vendas desde a inauguração da fábrica em Jacareí (SP), no final de agosto de 2014, é um retrato da decepção.
Essa questão nos vem à mente ao depararmos com a grande capacidade ociosa da unidade industrial da Chery em Jacareí e ao repassarmos o histórico do grupo comandado com muita ousadia e agressividade por Carlos Alberto de Oliveira Andrade, o Caoa.
O médico empresário tem hoje sob seu comando e gestão uma parte significativa do mercado de automóveis no Brasil. Além de ampla rede de revendedores Ford, marca com a qual colocou o pé no segmento de veículos, o grupo é o representante e importador no país das marcas Subaru e da Hyundai. Lembrando que a operação Hyundai no Brasil é dividida: a fábrica de automóveis da marca coreana em São Paulo é uma operação controlada pela própria Hyundai, por meio da HMC, Hyundai Motor Corporation, e a Hyundai CAOA gerencia a importação dos modelos da marca e a produção da unidade de Anápolis, em Goiás. A rede de distribuição é parte da HMC e parte da CAOA, operando por meio de um complexo acordo que define quem vende o que e como.
Não se pode deixar de mencionar a polêmica e nervosa parceria que o grupo CAOA manteve com a Renault nos primórdios da última abertura do mercado aos automóveis importados. Após fase de teste, apenas com carros importados, quando decidiu fabricar no Brasil, a Renault optou por desfazer a sociedade com o empreender brasileiro, mas pagou caro por isso.
Com a Chery, mais uma marca passa a fazer parte do portfólio CAOA. É um novo capítulo que se inicia na história da indústria automobilística no Brasil. Após o anúncio, feito na China pela Chery, da divisão meio a meio de suas operações no Brasil, a CAOA pega o microfone para comunicar que ainda não fala em modelos e que não tem data para colocá-los nas ruas do Brasil. Avisa apenas que eles chegam ao longo de 2018.
Voltando aos números, a capacidade da fábrica de Jacareí-SP é para 150 mil veículos/ano (em três turnos). Hoje ela opera em um turno e mesmo assim há capacidade ociosa. Para se ter ideia da lacuna existente, em 2.014 o volume de carros com a marca Chery emplacados no Brasil foi de 9.547 unidades (a marca ficou com o 17º lugar no ranking). No ano seguinte esse volume caiu para 5.328 unidades, colocando a marca em 19º lugar. Em 2016 os registros de emplacamentos mostram apenas 1.362 unidades, o que excluiu a marca das 20 primeiras mais vendidas no ano passado. Neste ano, até outubro, os dados da Fenabrave, mostram um total de 3.076 unidades emplacadas. Na época da inauguração a projeção para 2014 era de 15 mil unidades. Na ocasião Roger Peng, presidente da Chery Brasil disse sobre a crise daquela época: “Isso não é o fim do mundo, será passageira”.
Em seu comunicado, a Caoa anunciou um investimento de até US$ 2 bilhões nos próximos cinco anos.
Dados econômicos (*)
Investimento: U$530 milhões (fábricas de automóveis e motores)
Novos Investimentos: R$ 50 milhões para centro de P&D
Área construída: 400 mil m², em um terreno de 1 milhão de m²
Empregos: três mil
Capacidade de produção: 150 mil
Modelos para produção inicial: Celer e QQ
Vendas Chery em 2013: 8 mil unidades
Projeção para 2014: 15 mil unidades
Nº de revendas: 67 concessionárias
Modelos comercializados no Brasil: Tiggo, QQ, Celer e Face
(*) Dados apresentados em agosto de 2014, na inauguração da unidade industrial